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FOTOGRAFIA

 

 

 

 

 

 

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Mustafa Hassouna/ Anadolu Agency/ Getty Images

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II Seminário de Estudos Históricos da Universidade Federal do Paraná
O fazer histórico e(ntre) conflitos: pensando o presente
 

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Ações políticas


Larissa Brum Leite Gusmão Pinheiro

 

Os usos que damos aos nossos corpos são carregados de história e, assim, de posições políticas que o atravessam e que são também elaboradas por eles. É desta forma que podemos reivindicar a nossa existência, nossos direitos e o de nossa comunidade. Nossos corpos são, portanto, agentes de transformações, de conflitos, de resistência e de poder: é o meio pelo qual performamos no mundo, como bem nos mostra Barbara Kruger em seu trabalho “Seu corpo é um campo de batalha” de 1989.


A imagem escolhida para representar o II Seminário de Estudos Históricos da Universidade Federal do Paraná, cujo título deste ano (2019) é “O fazer histórico e(ntre) conflitos: pensando o presente”, remete-nos à diferentes imagens da história contemporânea. Trata-se da fotografia realizada por Mustafa Hassouna - para agência de notícias turca Anadolou Agency, em 22 de outubro de 2018 -, do palestino de apenas vinte anos A’ed Abu Amro, protestando na cidade de Beit Lahiya na Faixa de Gaza contra os bloqueios marítimos impostos por Israel. A fotografia é potente, e traz ao centro o jovem segurando em sua mão direita a bandeira da Palestina, enquanto na segunda carrega uma funda (arma utilizada para arremessar pedras). 


A imagem suscita várias alusões, tanto pelas questões compositivas, quanto simbólicas. Das mais imediatas como à referência bíblica da luta de Davi contra Golias, tanto pelo tipo de arma, como pelo simbolismo de uma única pessoa lutando contra a imensidão - aqui o exército israelita -, e as inúmeras comparações com a famosa pintura “Liberdade guiando o povo” (1830) de Eugène Delacroix (retratando a deposição de Carlos X e assim a vitória da Revolução de Julho de 1830). Ainda podemos compará-la a outras duas imagens em nossa memória social de ações individuais que se rebelam contra oponentes de força bélica consideravelmente maior: a do “Rebelde desconhecido” que enfrentou uma coluna de tanques de guerra, fazendo com que parassem por alguns instantes durante os protestos estudantis na Praça Celestial (Pequim, 05 de junho de 1989) e a do estudante José Ferreira Lopes enfrentando com um estilingue à cavalaria da Polícia, no que ficou conhecida como a “batalha do Politécnico” (Curitiba, maio de 1968).


Ao longo do tempo alguns corpos foram/são sujeitados à maior violência, enquanto outros, à privilégios. As ações políticas de protesto que os acompanham também são diversas: apenas para citar algumas imagens de nosso passado recente, podem ser caracterizadas por gestos pacíficos, como a simples presença de seus corpos em lugares que lhe são negadas, como os atos de Ruby Bridges, Malala Yousafzai, Rosa Parks; Marielle Franco; o ato de carregar flores contra as armas em inúmeros protestos contra a violência; empunhar a mão para cima como símbolo de luta e de resistência; até outras formas mais agressivas, passando pela autoimolação como o monge Thích Quang Duc, até mesmo a violência a outrem com os mais diversos meios. 


Assim como os corpos, a fotografia também é potencialmente política quando se trata de um ser humano, “na medida em que são usadas para controlar opiniões ou influenciar ações” (FABRIS, 2009, 417).
A ação de A’ed Abu Amro captada pelo fotógrafo Hassouna tornou-se símbolo político de ampla divulgação e repercussão devido aos novos meios de comunicação e de reprodução imagética. O jovem palestino, que costuma protestar todas as semanas com a mesma bandeira, reivindica com sua luta a dignidade e possibilidade de ser/estar de toda a Palestina, presente e futura (AL JAZEERA NEWS, 2018).


Referências
AL JAZEERA NEWS. Imagen 'icónica' de manifestante palestino en Gaza se vuelve viral. Trad.: Palestinalibre.org. 24 de outubro de 2018 Disponível em: https://www.palestinalibre.org/articulo.php?a=70563
FABRIS, Annateresa. O corpo como território do político. Baleia na Rede – Revista online do Grupo de Pesquisa em Cinema e Literatura, v.1, n.6, ano VI, p.416-429, dez. 2009.

 

 

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